quarta-feira, 25 de junho de 2008

Tempo de Saudades

Como você pode ler no meu perfil, criei este espaço para ver o mundo com lentes cor-de-rosa e publicar textos sobre vários assuntos, desde que sob uma ótica otimista. Entretanto, hoje, vou abrir uma exceção no blog e postar com profunda tristeza uma singela homenagem à uma mulher muito especial, que foi a Ruth Cardoso.

Como sua aluna na USP, pude conhecer um pouquinho mais essa professora dedicada e pesquisadora de renome internacional. Impossível não ter uma doce lembrança sobre uma pessoa tão inteligente e segura de si, em todos os sentidos. Ruth era uma daquelas mulheres que enobrecem o nosso gênero. Uma raridade. Especialíssima em questões como os movimentos sociais, urbanização, imigração japonesa, violência e participação política, estava sempre antenada com o que havia de mais recente nessas áreas. Uma verdadeira democrata. Uma mulher que soube delimitar com precisão o seu espaço enquanto ex-primeira-dama (título que ela não gostava de ostentar) e enquanto cidadã normal, com direito à sua privacidade, da qual nunca abriu mão. Em tempos de celebridades instantâneas, Ruth foi única, já que soube preservar sua vida particular da esfera pública.
Sem ela, só temos a lastimar. O Brasil, que já esteve representado por uma intelectual de primeira linha, uma autêntica lady, talvez só saiba a dimensão dessa perda repentina com o passar dos anos, quando sobre ela lançarem os holofotes que ela tanto evitou em vida. Uma pena que o nosso país não valorizou sua ex-primeira dama à altura. Sem ela, estamos todos ainda mais órfãos: de ética e de seriedade.
Veja, abaixo, os depoimentos dos amigos de profissão e de universidade, que colhi no portal G1, assim como a foto acima:
Para nós [da ABA] é uma enorme perda. A Ruth teve um papel muito importante na antropologia brasileira: primeiro como professora da Universidade de São Paulo e depois como mulher pública. Ela sempre articulou com perfeição a sua atividade acadêmica com o engajamento político não-partidário. A trajetória dela tem essa marca muito forte, com posicionamentos políticos firmes e moderados ao mesmo tempo.”
Luís Roberto Cardoso de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Particularmente, acho que ela desempenhou brilhantemente todos os papéis que ocupou - como professora, como pessoa pública ou como pessoa privada. Ela nunca precisou fazer nada de aparências, era uma pessoa exemplar, com uma autenticidade muito grande. Ruth nunca ficou deslumbrada e nunca tentou ser quem não era por causa de seu papel público. Ela soube fundir os papéis muito bem, sem nenhuma dificuldade. Era um modelo de pessoa, de uma grandeza extraordinária.”
Bolívar Lamounier, cientista político

A Ruth é unanimidade nacional. Você não vai encontrar ninguém que tenha nada para falar contra ela, nem mesmo os adversários políticos. Ela era uma pessoa admirável e fará muita falta. Sempre tratou a vida pública com lisura e respeito, pois tinha uma visão política extremamente lúcida. Dividi com ela mais de 50 anos de amizade e colaboração intelectual. Em todo esse tempo, ela nunca me desapontou, ela é um verdadeiro exemplo.”
Eunice Durham, antropóloga, amiga pessoal e também professora da USP

Ela modernizou a ação social, mudou a forma como a ação social era vista pela sociedade. Ela fez uma revolução sem a gente perceber.”
Roberto Augusto DaMatta, antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Eu a conheço há mais de 30 anos. Dona Ruth desenvolveu a carreira com muita competência, sempre preocupada com a política social. Ela manteve uma postura ética e uma civilidade exemplares. Era uma pessoa impecável. Portanto, é uma grande perda.
Gilberto Velho, professor titular de antropologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro

terça-feira, 17 de junho de 2008

Está servido?

Como hoje o dia está friozinho que só vendo (ou melhor, sentindo), que tal me acompanhar numa xícara fumegante de chá?
Dias assim me fazem vir à tona imagens de uma casa aconchegante, com lareira, um cachorrinho fazendo companhia, um sofá bem molinho e quentinho cheio de almofadas, tapetes peludos, alguma mulher bordando com ar feliz, crianças com pijamas e pantufas brincando e lá fora a neve, numa decoração impecável, cobrindo os telhados de chaminés com fumacinha.
Por que será que a gente, mesmo morando num país que faz frio, mas que não tem tanta neve assim, cria um ideal de felicidade tão distante, quando tanta gente (e bota gente nisso) preferiria um clima menos rigoroso, talvez como o nosso? Deve ser por causa da nossa mania de colocar a felicidade em lugares inalcançáveis, em tempos futuros ou num passado que de tão distante se perdeu. Felicidade não é para rimar com o presente, ela tem de estar ou lá na frente ou lá atrás. Nunca aqui. Aqui é perto demais para se pegar, tocar, viver, experimentar, porque o aqui e agora sempre já passou. Fugiu pelos meus dedos enquanto digitava, foi mais rápido do que minha vontade de expressar o que pensava, porque agora o que penso já é outra coisa, e essa também já foi.
Acho que o melhor mesmo, pelo andar da carruagem, é deixar essa conversa toda de lado e servir o chá que lhe ofereci lá em cima, que a essa altura, já deve estar gelado. Sente-se, acomode-se que vou lá dentro preparar um outro. Um minutinho só...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Quand on n' a que l' amour - Jacques Brel

Quand on n'a que l'amour A s'offrir en partage Au jour du grand voyage Qu'est notre grand amour Quand on n'a que l'amour Mon amour toi et moi Pour qu'éclatent de joie Chaque heure et chaque jour Quand on n'a que l'amour Pour vivre nos promesses Sans nulle autre richesse Que d'y croire toujours Quand on n'a que l'amour Pour meubler de merveilles Et couvrir de soleil La laideur des faubourgs Quand on n'a que l'amour Pour unique raison Pour unique chanson Et unique secours Quand on n'a que l'amour Pour habiller matin Pauvres et malandrins De manteaux de velours Quand on n'a que l'amour A s'offrir en prière Pour les maux de la terre En simple troubadour Quand on n'a que l'amour A offrir à ceux-là Dont l'unique combat Est de chercher le jour Quand on n'a que l'amour Pour tracer un chemin Et forcer le destin A chaque carrefour Quand on n'a que l'amour Pour parler aux canons Et rien qu'une chanson Pour convaincre un tambour Alors sans avoir rien Que la force d'aimer Nous aurons dans nos mains, Amis le monde entier



Céline Dion e Maurane - Fonte YouTube

domingo, 8 de junho de 2008

As legítimas brasileiras que vieram do Japão

Na revista Veja da semana passada, mais precisamente na homenagem do centenário da imigração japonesa, pude ver que vários objetos do nosso dia-a-dia são originários dessa cultura. Descobri, por exemplo, que as nossas havaianas (sim, as legítimas, que são as únicas que não deformam, não soltam as tiras nem têm cheiro, lembra-se do slogan?) foram inspiradas na zori, a tradicional e popular sandália japonesa feita de palha.
Quando surgiram, em 1962, fabricadas em São José dos Campos, São Paulo, elas eram usadas mais por mulheres do que por homens e eram voltadas à classe C. Durante décadas, o produto tratado como commodity pela empresa fabricante, a Alpargatas, era feito de duas cores, em geral, brancas com as tiras azuis. Eu mesma me lembro, já na minha adolescência, quando as sandálias ganharam um certo status por caírem no gosto dos surfistas e descolados da época, de ao comprá-las na cor preta (ou marrom) virar as tiras para que as sandálias ficassem de uma só cor. Ali estava o início do futuro sucesso, quando, na década de 90, que retomou muita coisa dos anos 70, as havaianas passaram por um banho de marketing e se transformaram num dos cases mais interessantes dos últimos tempos.
Repare bem nos números que dão a dimensão do trabalho elaborado pela empresa.
No lançamento, com o fator preço favorecendo a compra, em menos de um ano, a Alpargatas produzia mais de mil pares de sandálias por dia. Nos trinta anos seguintes, seu público-alvo continuava sendo uma classe economicamente desfavorecida, que as comprava em mercados de bairro, fazendo com que as sandálias ficassem conhecidas como calçado de gente pobre. Foi em 1994 que a empresa ousou e lançou o modelo Havaianas Top, com cores fortes e calcanhar mais alto, para atrair um público de maior poder aquisitivo. Para isso, foram veiculados filmes publicitários estrelados por artistas famosos e um novo plano de distribuição foi colocado em prática. Inventou-se um display vertical nos pontos de venda para facilitar a escolha do produto e do número que substituiu as antigas bancadas com pares espalhados. Seguindo esse novo posicionamento, na Copa do Mundo de 1998, foram criados diferentes modelos como, por exemplo, a Havaianas Brasil. Em 2000, a companhia inaugurou o departamento de comércio exterior para o produto havaianas com o objetivo de melhor trabalhar a sua exportação. Numa primeira etapa, foi reorganizada a sua rede de distribuidores. Alguns eventos ocorreram para a divulgação da marca e, na França, em 2001, as sandálias coloridas tipicamente brasileiras venderam três mil pares. Nesse período, a distribuidora francesa foi uma das que mais trabalhou o conceito da marca, fazendo parcerias com grandes lojas como a Galeries Lafayette e o Bon Marché. Em 2003, foram produzidos modelos sofisticados com os cristais austríacos Swarovski para os indicados ao Oscar e colocados em embalagens especiais com o nome de cada um, imitando a tradicional Calçada da Fama. As sandálias foram entregues aos artistas no dia seguinte à premiação do Oscar. Nos últimos anos, o lucro gerado pela exportação das havaianas quadruplicou e os países que mais compram são os Estados Unidos e a Austrália. Atualmente, são fabricados, em Campina Grande, na Paraíba, cinco pares de sandálias por segundo, o que gera uma produção anual em torno de 160 milhões de pares. Só aqui no Brasil, desde o lançamento no mercado, já foram vendidos mais de 2 bilhões de pares.
Tamanha criatividade não pára por aí. Em 2006, a Alpargatas desenvolveu o item que faltava para dar prosseguimento à essa trajetória de sucesso, introduzindo as meias para se usar com as havaianas com a separação do dedo maior dos demais. Dessa forma, as sandálias não são mais sinônimo de verão, podendo ser usadas no inverno também. E se você chutou que as Havaianas Socks também foram inspiradas na cultura japonesa, acertou.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aniversário de Carlos Seixas

Apaixonada que sou pelo som de cravo, andei navegando esses dias pela internet para saber mais sobre esse instrumento musical. Segue um breve resumo do que li. Cravo é o nome dado a qualquer instrumento musical de teclas, de qualquer tamanho. Clavicembalo ou simplesmente cembalo em italiano e em alemão. Harpsichord em inglês. A palavra francesa para traduzir cravo é clavecin. Em espanhol, clavicordio, mas não se deve confundir com clavicórdio, que é piano. A propósito, a principal diferença entre cravo e piano é que nos instrumentos musicais como o cravo, obtém-se o som tangendo ou beliscando uma corda ao invés de percuti-la, como no piano. A origem do cravo remonta à Idade Média. O cravo mais antigo e completo, ainda preservado, veio da Itália, datado de 1521. A primeira música escrita especificamente para solo de cravo foi publicada em meados do século XVI. Os compositores que escreveram solos de cravo foram bastante numerosos durante todo o período do Barroco, na Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra e França. Os gêneros favoritos para o solo de cravo incluem as suítes de danças, a fantasia e a fuga. Em Portugal, o cravo tem seu apogeu com José Antonio Carlos de Seixas. Filho de importante organista, ele estudou com o pai e cedo o substituiu como organista da Sé de Coimbra. Exerceu esse cargo de grande responsabilidade durante dois anos. Partiu para Lisboa, aos 16 anos e foi muito solicitado como professor de música de famílias nobres da corte, sendo depois nomeado organista da Sé Patriarcal e da Capela Real. Carlos Seixas, como se tornou conhecido mais tarde, gozava da fama de ser músico e professor excelente. Na capital portuguesa, onde casou-se e teve cincos filhos, impôs-se como organista, cravista e compositor. Carlos Seixas morreu em 25 de agosto de 1742, já sendo mestre da Capela Real. Infelizmente, grande parte de sua obra perdeu-se, provavelmente, no terremoto de Lisboa, em 1755. Como a data de seu aniversário é em 11 de junho de 1704, aproveito a proximidade do dia para lhe prestar essa singela homenagem. Abaixo, disponibilizo um concerto magistral de sua obra com a Orquestra de Câmara da Academia de Música de São João da Madeira, dirigido por Richard Tomes e tendo como solista Natasha Pikoul, que achei no YouTube.