Na revista Veja da semana passada, mais precisamente na homenagem do centenário da imigração japonesa, pude ver que vários objetos do nosso dia-a-dia são originários dessa cultura. Descobri, por exemplo, que as nossas havaianas (sim, as legítimas, que são as únicas que não deformam, não soltam as tiras nem têm cheiro, lembra-se do slogan?) foram inspiradas na zori, a tradicional e popular sandália japonesa feita de palha.
Quando surgiram, em 1962, fabricadas em São José dos Campos, São Paulo, elas eram usadas mais por mulheres do que por homens e eram voltadas à classe C. Durante décadas, o produto tratado como commodity pela empresa fabricante, a Alpargatas, era feito de duas cores, em geral, brancas com as tiras azuis. Eu mesma me lembro, já na minha adolescência, quando as sandálias ganharam um certo status por caírem no gosto dos surfistas e descolados da época, de ao comprá-las na cor preta (ou marrom) virar as tiras para que as sandálias ficassem de uma só cor. Ali estava o início do futuro sucesso, quando, na década de 90, que retomou muita coisa dos anos 70, as havaianas passaram por um banho de marketing e se transformaram num dos cases mais interessantes dos últimos tempos.
Repare bem nos números que dão a dimensão do trabalho elaborado pela empresa.
No lançamento, com o fator preço favorecendo a compra, em menos de um ano, a Alpargatas produzia mais de mil pares de sandálias por dia. Nos trinta anos seguintes, seu público-alvo continuava sendo uma classe economicamente desfavorecida, que as comprava em mercados de bairro, fazendo com que as sandálias ficassem conhecidas como calçado de gente pobre. Foi em 1994 que a empresa ousou e lançou o modelo Havaianas Top, com cores fortes e calcanhar mais alto, para atrair um público de maior poder aquisitivo. Para isso, foram veiculados filmes publicitários estrelados por artistas famosos e um novo plano de distribuição foi colocado em prática. Inventou-se um display vertical nos pontos de venda para facilitar a escolha do produto e do número que substituiu as antigas bancadas com pares espalhados. Seguindo esse novo posicionamento, na Copa do Mundo de 1998, foram criados diferentes modelos como, por exemplo, a Havaianas Brasil. Em 2000, a companhia inaugurou o departamento de comércio exterior para o produto havaianas com o objetivo de melhor trabalhar a sua exportação. Numa primeira etapa, foi reorganizada a sua rede de distribuidores. Alguns eventos ocorreram para a divulgação da marca e, na França, em 2001, as sandálias coloridas tipicamente brasileiras venderam três mil pares. Nesse período, a distribuidora francesa foi uma das que mais trabalhou o conceito da marca, fazendo parcerias com grandes lojas como a Galeries Lafayette e o Bon Marché. Em 2003, foram produzidos modelos sofisticados com os cristais austríacos Swarovski para os indicados ao Oscar e colocados em embalagens especiais com o nome de cada um, imitando a tradicional Calçada da Fama. As sandálias foram entregues aos artistas no dia seguinte à premiação do Oscar. Nos últimos anos, o lucro gerado pela exportação das havaianas quadruplicou e os países que mais compram são os Estados Unidos e a Austrália. Atualmente, são fabricados, em Campina Grande, na Paraíba, cinco pares de sandálias por segundo, o que gera uma produção anual em torno de 160 milhões de pares. Só aqui no Brasil, desde o lançamento no mercado, já foram vendidos mais de 2 bilhões de pares.
Tamanha criatividade não pára por aí. Em 2006, a Alpargatas desenvolveu o item que faltava para dar prosseguimento à essa trajetória de sucesso, introduzindo as meias para se usar com as havaianas com a separação do dedo maior dos demais. Dessa forma, as sandálias não são mais sinônimo de verão, podendo ser usadas no inverno também. E se você chutou que as Havaianas Socks também foram inspiradas na cultura japonesa, acertou.
domingo, 8 de junho de 2008
As legítimas brasileiras que vieram do Japão
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2 comentários:
Sim, provavelmente por isso e
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